Apresentando o senhor ZÉGUA

Apresentando o senhor ZÉGUA

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

QUEM NÃO ESTÁ NA GRAÇA DO POVO... SIMPLESMENTE ESTÁ NA DESGRAÇA!


VONTADE DE MANDAR A CAIXA PARA A “CAIXA PREGO*”!!!

Terça-feira nublada, terceira semana de janeiro de 2011.

O primeiro cliente do dia poderia ser um caso normal, uma atualizaçãozinha qualquer, coisa simples. Mas não. O cara foi entrando e nem disse bom dia. Olhou para nosso amigo Zégua e disse:

- Saiu não!
- Mas vai sair, “siô”.
- Mas fui lá de novo e não saiu.
- É que demora mesmo. Mas vai sair.
- Mas aqui tá dizendo que meus papéis aí estão com problema.
- Mas já atualizamos.
- Mas continua dizendo que tá dois anos sem cadastro.
- É propaganda falsa. Já atualizamos em dezembro.
- Mas tá dizendo pra atualizar de novo.
- Agora é só aguardar a liberação pelo pessoal de Brasília.
- Mas o papel diz que o problema é aqui.
- O senhor vá de vez em quando na Casa Lotérica, que o dinheiro vai ser liberado a qualquer momento.
- Mas o papel diz que o problema é aqui.
- Nós já enviamos a atualização do seu cadastro pra Brasília desde o ano passado.
- Mas o papel diz que o problema é aqui.

“Senhor, misericórdia!!!”

- O senhor passa lá de novo, noutro dia...
- Tá bom. Vou passar no final do mês.

“Ufa!”

- Mas não se aborreça com o “veím” aqui não. É que preciso comprar meus remédios.
- Tudo bem. Vamos aguardar que vai dar tudo certo.

Milagrosamente o sujeito vai embora.

Mal o cara sai, outro entra. E bastante zangado, ofegante. Também nem diz "bom dia".

- Irmão, o problema continua. Vou já procurar um advogado.
- Pois vá. (Esperar que Zégua seja um poço de paciência 24 horas por dia é demais, vocês não acham?).

E o diálogo continuou. Estou transcrevendo da forma mais fiel possível.

- Fui na Caixa e me disseram que o dinheiro tá vindo todinho. Mas não recebi esse dinheiro não. Vou procurar um advogado, vou no fórum.
- Vá logo, meu amigo. Se eu fosse você já tinha ido faz tempo.
- Eles tão roubando. Tão roubando mesmo. Que negócio é esse? O dinheiro de todo mundo aumenta e só o meu diminui. Fui na Caixa de novo.

- Foi de besta. Já disse que a Caixa não resolve nada. Os gênios de lá só sabem dizer que o problema é nas Prefeituras.

(Nesse momento, Zégua controlou sua língua com muito esforço. Teve muita vontade de dizer o que foi escrito acima, mas, na realidade, só disse o seguinte: - O senhor tá gastando dinheiro à toa. Já disse que a Caixa não resolve nada. Os gênios de lá só sabem dizer que o problema é nas Prefeituras).

- O rapaz da caixa olhou meus papéis no computador e disse: “Seu dinheiro tá indo normal. Você procura a Prefeitura que seu dinheiro está indo normal.”
- Quem você acha que está mentindo? Eu ou o rapaz da Caixa?
- Não sei, não. Ele disse que o problema é aqui.
- Quem você conhece melhor? Eu ou ele?
- Eu não sei da sua vida.
- Mas me conhece melhor que o cara da Caixa, não?
- É.
- E porque acha que só ele fala a verdade e eu minto?
- Por que ele olhou no computador e viu que o problema é aqui.
- Pare de gastar dinheiro indo na Caixa. Vá logo na juíza!
- Você não tá botando meus “menino” no cadastro.
- Meu amigo, vá logo na juíza. Eu tô doidinho pra falar com ela.
- Isso é uma enrolada do cão.
- Converse com a juíza e diga para ela me chamar que tô louco pra testemunhar.

O cara acalmou-se e ficou sentado, falando aqui e ali. De vez em quando se lamentava da sorte e da vida. Depois de quase meia hora levantou-se e disse:

- Vou embora, vou embora.
- Vá e tome providências, moço.

O cara saiu e Zégua ficou pensativo. "Por que será que o mentiroso da história sempre sou eu?"

*CAIXA PREGO - 1.Bras. V. cafundó (3): cafundó-do-judas; Substantivo masculino.
1.Bras. V. cafundó (3):
“era uma pequena cidade, quase inexistente, metida nos cafundós-do-judas.” (Nélson Rodrigues, 100 Contos Escolhidos. A Vida como Ela É, II, p. 23). [Pl.: cafundós-do-judas.](Aurélio).