Apresentando o senhor ZÉGUA

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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

SEIS VERDADES IMORAIS SOBRE O BOLSA FAMÍLIA

Obs.: O texto seguinte foi escrito em 2013, logo após o escandaloso boato do “fim do Bolsa Família” (final de maio de 2013). Escrevi o texto especialmente para o blog de um amigo (sobre o Bolsa Família). Como o blog dele não existe mais e como o assunto é bem atual resolvi publicar no Blog do Zégua para o conhecimento dos leitores mais recentes.
Verdades que vieram à tona nos recentes acontecimentos envolvendo o Programa Bolsa Família.
1 – O BOLSA FAMÍLIA É SAGRADO, INTOCÁVEL, E AI DE QUEM FOR CONTRA ELE
Muitas pessoas, inclusive eu, sempre suspeitaram disso. O Programa Bolsa Família (PBF para os íntimos) veio para ficar... para sempre! A idéia inicial até que era boa, mas sem um projeto para os beneficiários (tipo uma capacitação profissional, uma porta para a inserção num emprego digno, etc.), o PBF tornou-se apenas um mero sustento para os menos favorecidos e, o que é pior, uma fórmula perfeita para a compra de votos.
O beneficio deveria vir com um prazo de validade. Ou seja, a pessoa iria receber o beneficio por um certo tempo até ser inserida num serviço onde pudesse se manter por conta própria, pelos seus próprios esforços. Mas quem se mantém pelo próprio suor pode ficar independente. E se ficar independente pode até raciocinar e refletir antes de escolher seu candidato nas próximas eleições. E se aprender a refletir, corre o risco de votar em quem quiser. E isso certos políticos corruptos não querem jamais.
Então se o PBF fica como está, a pessoa torna-se dependente dele como um viciado depende de uma droga, e isso de tal forma, que o maior medo dessas pessoas é votar em alguém que seja contra o tal programa. Aí chegamos a um grave problema:
2 – É FÁCIL FAZER UM CANDIDATO PERDER UMA ELEIÇÃO – É SÓ ELE SER DOIDO SUFICIENTE PARA DECLARAR QUE É CONTRA O BOLSA FAMÍLIA
Se o PBF é sagrado e intocável, a dedução é simples: ganha a eleição quem for a favor dele e perde de goleada quem for contra. Isso ficou mais do que claro nos acontecimentos desse final de semana (18 e 19 de maio de 2014). Mas como a maioria dos candidatos são “raposas velhas”, é claro que nenhum deles é idiota para declarar que é contra o PBF. Porém, o que ficou evidenciado recentemente é pior do que se imagina. O candidato pode até declarar que é a FAVOR do PBF, pode até prometer ampliar e melhorar o tal programa, mas o inimigo tem uma arma secreta infalível...
3 – UM SIMPLES BOATO BEM ELABORADO DURANTE UMA CAMPANHA ELEITORAL TEM POTENCIAL SUFICIENTE PARA DETONAR A ELEIÇÃO DE QUALQUER UM
Um político pode até jurar, sobre uma montanha de Bíblias, que é a favor do Bolsa Família, mas bastará um simples boato bem articulado (tipo: que o tal candidato, se eleito, vai acabar com o Bolsa Família), e sua candidatura será detonada da pior forma possível. Isso foi provado recentemente. O povão ignorante, analfabeto, escravo do sistema, não tem capacidade (e liberdade) para raciocinar, fazer juízos, distinguir o certo do errado, discernir a verdade da mentira, e por isso, acredita, sem pestanejar, naquilo que mexer com seus interesses (e especialmente com os seus bolsos).
Nas eleições passadas essa tática foi usada e abusada pelos políticos. Uma notícia se espalhou a respeito de um certo candidato, dizendo que ele era contra o Bolsa Família. Não adiantou ele tentar argumentar, a arapuca foi bem feita.
4 – O DEMÔNIO INVOCADO NÃO PODERÁ MAIS SER MANDADO DE VOLTA AO INFERNO
O famoso poeta alemão Goethe, em seu poema “Aprendiz de feiticeiro”, diz uma frase perturbadora: “Não consigo me livrar dos espíritos que invoquei”. A situação expressa o seguinte: um feiticeiro invoca um espírito do abismo e depois tem a maior dor de cabeça ao tentar se livrar do tal demônio.
Você pode até achar a comparação estranha, mas o sentido é o mesmo. O PBF é como um monstro que o governo criou e agora não consegue mais se livrar dele, mesmo que queira. Se o governo pretendia que o PBF fosse uma ajuda temporária, as pessoas se “viciaram” nessa “ajuda” e agora não conseguem mais viver sem ela. Mesmo que haja relatos de pessoas que melhoraram de vida e resolveram sair do programa para ceder o lugar aos menos favorecidos, a verdade é que a grande maioria não quer largar o osso de jeito nenhum. Somos testemunhas diariamente (nós, técnicos, coordenadores e entrevistadores que trabalham com o programa) de casos em que as pessoas, mesmo com uma renda razoável, até brigam para não sair do programa.
5 – PARA MUITOS BRASILEIROS, O BOLSA FAMÍLIA É UMA NOVA FORMA DE DIVIDIR MORALMENTE A HUMANIDADE
Nas eleições municipais passadas vimos muito disso. As pessoas dividiam-se em dois grupos: O grupo da situação era o GRUPO DO BEM, e o da oposição, o GRUPO DO MAL. Qualquer acontecimento negativo envolvendo alguém da oposição era proclamado aos quatro ventos com satisfação: “Tão vendo o que eles fazem? Do lado deles só tem esse tipo de gente, gente do mal.” Muitos políticos, ao subir nos palanques, exclamavam: “Deus está do nosso lado”. Ou seja: Deus está com a gente e o diabo está com eles (os opositores). De vez em quando ouvimos isso na televisão, na política nacional. É claro que os políticos de Brasília costumam usar metáforas ou palavras mais inteligentes (ou obscuras), mas o sentido é o mesmo. A situação é o partido da verdade, e a oposição é o partido da mentira. Atualmente no Brasil se você quer fazer inimigos é só dizer que é contra o casamento gay ou contra o Bolsa Família.
6 – QUALQUER QUE SEJA O PROBLEMA COM O BOLSA FAMÍLIA A CULPA É SEMPRE DOS OUTROS
Quem trabalha com o Programa sabe: Sempre que o beneficio de alguém é bloqueado ou cancelado, o serviço 0800 tem a resposta na ponta da língua: “O PROBLEMA É NO DEPARTAMENTO DO BOLSA FAMÍLIA DO SEU MUNICIPIO”. Alguns até ousam declarar: “MINHA SENHORA, AQUI NO NOSSO SISTEMA, NÃO TEM NADA ERRADO COM O SEU BENEFICIO. ALGUMA COISA TÁ ERRADA É NA PREFEITURA DO SEU MUNICIPIO”. Nesses últimos anos, aliás, desde o inicio do Programa, sempre que ocorreram problemas oriundos do próprio sistema, a CAIXA raramente se manifestou publicamente. Eu disse “raramente”, mas não lembro de nenhum caso em que se manifestaram. Quando não joga a culpa nos operadores municipais, o pessoal da CAIXA geralmente se cala, se esconde, se omite, mas não assume publicamente o erro.
Agora não foi diferente. E tiveram até ajuda extra. Uma ministra do atual governo se apressou em culpar a oposição. Pra quem não conhece, veja o que ela declarou no twitter: “Boatos sobre fim do bolsa família deve ser da central de notícias da oposição. Revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política.” A Polícia Federal foi acionada para descobrir o “criminoso” e “desumano” (palavras da presidenta) autor do terrível boato. Os operadores municipais do programa que coloquem suas barbas de molho.
BOLSA FAMILIA, O ESTOPIM DO ARMAGEDOM BRASILEIRO
Armagedom é uma palavra bíblica bastante conhecida nos círculos militares, pois é o nome do local geográfico, onde, segundo a Bíblia (precisamente Apocalipse, capítulo 16), acontecerá uma guerra mundial, pouco antes da Segunda Vinda de Cristo. Bem, o termo “Armagedom” virou sinônimo de catástrofes, fim do mundo ou coisa parecida. Por isso, a comparação com o PBF. É só imaginar a cena. Se um simples boato provocou tanta histeria (e violência, pois há vários relatos de caixas eletrônicos violados), pense no que poderia acontecer se o governo decretasse, de verdade, o fim do Bolsa Família.
Pensemos em algo ainda pior. Se o programa acabasse de repente e o governo culpasse o pessoal que trabalha nos municípios. Meus amigos, é assustador pensar nisso. Só quem trabalha com o programa (nos municípios) sabe: estar diante de alguém cujo cartão foi cancelado é como estar diante de uma fera ferida. Especialmente depois que esse alguém ligou para o 0800 e recebeu a “revelação” de que toda a culpa é dos caras que trabalham nas prefeituras.
Alguma coisa tem que ser mudada. E urgentemente. Do contrário, as próximas notícias sobre o Bolsa Família vão aparecer somente nas páginas policiais. Ou nos avisos fúnebres.
Por falta de conhecimento, o povo se lasca.” (Oséias 4.6, versão na linguagem nordestina)