Apresentando o senhor ZÉGUA

Apresentando o senhor ZÉGUA

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O GOVERNO DÁ... E O TAL DE ZÉGUA TIRA!

O DIA EM QUE A PROMOTORA ENCAROU DONA PRISSIGA E SUA TURMA

Fevereiro de 2012, em uma cidadezinha no interior do Maranhão.

- Ladrões!!!
- Isso não vai ficar assim!
- Vamos na promotoria!
- Só fazem isso com a gente porque somos pobres!
- Enganadores!
- Filhos da %$#@!!!
- Safados! Mentirosos!

A multidão se aglomera diante de um pequeno prédio, diante de uma porta fechada, com um letreiro acima, dentro de um retângulo amarelo, escrito em verde: BOLSA FAMÍLIA.
Alguém entre a multidão ameaça derrubar a porta. Uma senhora se aproxima e tenta acalmar os ânimos.

- Gente, que é isso? As coisas não são como vocês pensam. Estão vendo este cartaz aqui ao lado? Está dizendo que o governo federal prorrogou o prazo para a atualização do Bolsa Família. Agora vai até o final de março. Ninguém está enganando vocês. O sistema está fora do ar e só iremos atender vocês a partir da quarta-feira.

*******

Este inicio de 2012 não tem sido fácil para o nosso herói e sua equipe.

Prestes a sofrer um colapso nervoso, Zégua resolveu tirar uns dias de férias. Como fazia um bom tempo que não tinha esse merecido descanso (pelo menos uns oito anos), resolveu tirar licença de três meses (tudo de acordo com a lei).

Mas o “PERÍODO DO CÃO” no Bolsa Família costuma ser justamente no inicio do ano (bloqueios e cancelamentos de benefícios). Desta vez o governo federal bloqueou 729 mil famílias no Brasil todo. Mas desde o final de 2011 que Zégua e sua equipe trabalham para atualizar todos os dados e evitar que os benefícios sejam cancelados.

Só que a nova versão do programa (que agora é on-line) é tão ruim, que não existem adjetivos adequados no horário nobre que possa descrevê-la (é mais fácil encontrar esses adjetivos em programas proibidos para menores de 18 anos).
Resultado: O governo já foi obrigado a prorrogar o prazo para o encerramento do recadastramento CINCO vezes, desde outubro de 2011!!!

E assim, as férias de nosso herói tem sido, na verdade, FÉRIAS FRUSTRADAS.

Alguns exemplos recentes.

CLAP!!! CLAP!!! CLAP!!!

- Oi, o rapaz que ajeita cartão do Bolsa Família está em casa?

Nosso herói (que estava tentando tomar café) levanta-se, e vai atender às duas senhoras que estão na porta, com o famigerado cartãozinho amarelo na mão.

- Oi, eu ouvi dizer que o senhor está de férias, mas é que nossos cartões estão bloqueados e a gente está com algumas contas atrasadas.

- Olha, as senhoras tem que levar o cartão até o departamento e mostrar para as meninas que estão trabalhando lá.

- Já fomos lá, mas aquelas “bichas” não sabem resolver nada. A gente foi lá ontem e continua bloqueado. A gente só confia no senhor.
“Ai! Ai! Ai! É hoje!”

- Mas, senhoras, a coisa não é tão rápida assim não. Vocês atualizam o cadastro e aguardam alguns dias.

- Mas disseram que o senhor está desbloqueando todos os cartões na sua casa.

- É mentira de quem disse!

E a conversa prossegue do jeito que vocês estão cansados de ler aqui, com as mulheres acusando nosso herói e sua equipe de não estarem trabalhando direito, etc., etc.

Cinco minutos depois.

CLAP!!! CLAP!!! CLAP!!!

- Seu Zégua tem umas mulheres chamando o senhor lá fora.

Nosso herói interrompe o trabalho que está fazendo e lá vai outra vez.

Dez minutos depois.

CLAP!!! CLAP!!! CLAP!!!

- Seu Zégua, tem outras mulheres ali na calçada...

Quinze minutos depois.

CLAP!!! CLAP!!! CLAP!!!

- Ei, o rapaz que trabalha com o Bolsa Família mora aqui?

Pense numa situação agonizante.

Certo dia, entre sete e sete e meia da manhã.

CLAP!!! CLAP!!! CLAP!!!

Zégua está tomando banho quando ouviu as palmas.

“Essa não! Já tem alguém na minha porta uma hora dessas?”

Domingo, pela manhã, nosso herói tentando fazer umas comprinhas na tradicional feira da cidade, o famoso “shopping dos pobres”.

Entre uma banca e outra, as mesmas perguntas, acusações e propostas indecentes:

- Oi, você é o rapaz que ajeita os cartões do Bolsa Família? Meu filho, faz alguma coisa, estou com as prestações atrasadas, blá! Blá! Blá! Blá!

- Olha, eu já liguei no tal 0800 e eles dizem que o problema é aqui mesmo. A mulher me disse que você é que não está trabalhando direito.

- Ei, faz favor – abaixa a voz e completa – se você desbloquear meu cartão, tenho uma coisa lá em casa pra você. Estou criando um frango...
Uma mulher jovem olha nos olhos do nosso herói e promete:

- Dá um jeito no meu cartão que depois a gente se acerta.

“Jesus! O que eu tenho que ouvir?”

*******

29 de fevereiro de 2012. Quarta-feira. Entre oito e oito e meia.

Novamente a multidão aglomerada diante do departamento do Bolsa Família, ameaçando “soltar os cachorros” sobre todo mundo se seus benefícios não forem logo desbloqueados.

Nosso herói aproxima-se da multidão para ver se consegue dispersá-la apenas com uma conversa.

Ele tenta explicar que o problema é no Brasil inteiro, que o sistema está muito lento e muitas vezes fica fora do ar, que ninguém está cancelando o beneficio de ninguém, etc. MAS PARECE QUE TODOS ESTÃO SEM ALMA, SEM MENTE, COMO ZUMBIS ANSIOSOS PARA DEVORAREM O QUE ENCONTRAREM PELA FRENTE.

Diante da grande pressão (e acusações pesadas contra o nosso herói e sua equipe) a Secretária de Assistência Social corre até a promotoria (que fica a poucos metros dali), e clama desesperada:

- Doutora, pelo amor de Deus, ajude a gente!!!

Em questão de minutos, a promotora está lá, diante de todos, cercada pela multidão enfurecida, “sedenta de sangue”.

Os exaltados se calam. Todos ficam atentos enquanto a excelentíssima explica para os “cabeças de vento” a realidade sobre o que estava acontecendo.

Usando quase as mesmas palavras que o nosso herói tinha recitado há poucos minutos, a digníssima MULHER DA LEI explica as razões dos bloqueios dos benefícios, as dificuldades geradas pelo novo sistema e que o que podia se fazer para resolver os problemas, estava sendo feito.

Também advertiu a todos a respeito das acusações e xingamentos que estavam sendo lançados contra Zégua e sua equipe.

Bem, foi o clássico banho de água fria. Pouco a pouco a poeira foi baixando.

Mas o clima de filme de terror continua. E continuará enquanto os responsáveis pelo Programa não assumirem suas falhas e ficarem lançando todas as responsabilidades sobre os municípios, sobre as costas dos “zéguas” espalhados por esse “brasilzão” afora.

Continuará até que o governo federal deixe de dar peixes para o povo e resolva dar anzol, isca, aulas de pescaria, e rios onde todos possam pescar.