Apresentando o senhor ZÉGUA

Apresentando o senhor ZÉGUA

terça-feira, 3 de abril de 2012

JEITINHO BRASILEIRO? CARA-DE-PAU MESMO!

ZÉGUA É O ALVO – E BOA PARTE DA IMPRENSA AJUDA NA CAÇADA


Uma noticia recente, divulgada em muitos jornais, dizia:

“Beneficiários têm até dia 29 de março para evitar cancelamento do Bolsa Família”

Alguém já viu algum noticiário informando que o sistema responsável pelo cadastramento dos dados do Bolsa Família está com sérios problemas e que a Caixa mobilizou uma força-tarefa para tentar resolver tudo?

Alguém assistiu no Jornal Nacional, no Jornal da Band, da Record, do SBT ou qualquer outro alguma noticiazinha, uma nota qualquer sobre o problema que os cadastradores e gestores estão enfrentando nos Municípios?

Algum jornalista já se perguntou por que o governo federal prorrogou por cinco vezes o prazo final para a revisão cadastral de 2011? Outubro, dezembro, janeiro, fevereiro e agora março.

Não? Por que não?

Agora imagine as conseqüências de se esconder informações vitais.

A mulher irrompeu na sala como uma fera ferida.

- Acabei de falar com o pessoal do 0800, fui na casa lotérica e o funcionário me disse a mesma coisa: VOCÊS SÃO UM BANDO DE VAGABUNDOS, SÓ SABEM GANHAR SEM TRABALHAR. SE ESTIVESSEM FAZENDO O SERVIÇO DE VOCÊS DIREITINHO A GENTE NÃO ESTAVA COM OS CARTÕES BLOQUEADOS.

- Mas senhora – Zégua coça a cabeça, pensando: “É hoje” – a senhora não veio aqui há duas semanas, não atualizamos seu cadastro? Já fizemos a nossa parte, agora é só aguardar...

- Aguardar o quê? Vocês garantiram que bastavam eu vir aqui, pra vocês atualizarem meus dados que eu voltava a receber meu dinheirinho.

“Ai! Ai! Ai! Como vou explicar pra ela que o problema é no sistema?”

- Sim, nós fizemos a nossa parte, a senhora fez a sua, agora só depende do pessoal responsável pelo sistema, pois o sistema tá com sérios problemas...

- Vocês só sabem é mentir. Todo dia eu assisto os jornais e nunca vi ninguém falando nesse tal de sistema.

“Complicou ainda mais.”

- É verdade, meu filho – Outra mulher que havia entrado na sala há alguns minutos, resolve se intrometer, educadamente – eu sempre assisto os jornais, todos eles, e nunca vi esse negócio de problema no sistema. O que eu vejo de vez em quando é que as prefeituras são responsáveis pra não deixar os cartões de ninguém “ser” bloqueados.

- Eu vim aqui no ano passado e já faz quatro “mês” que meu dinheiro tá “bronquiado” – uma terceira senhora se aproxima. E a fila vai aumentando, com as acusações de sempre:

- É só aqui que acontece isso!

- O prefeito devia trocar esses funcionários!

- Não quer trabalhar, meu filho? Dá o lugar pra outro!

- Só saio daqui hoje quando meu cartão voltar ao normal. Quero ver quem vai me tirar daqui antes disso!

- Essas “pragas” não pensam nas nossas crianças!

- Se não querem mais dar o dinheiro, digam logo!

- Só quero ver aquela cara limpa do prefeito quando for lá em casa pedir o meu voto!

Recentemente os jornais espalharam a seguinte noticia:

“De todas as famílias que necessitavam confirmar ou alterar as informações que constam do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadúnico), 729 mil não procuraram a prefeitura para regularizar a situação até 31 de dezembro. Por isso, tiveram o pagamento suspenso e uma nova chance com a prorrogação do prazo, que, agora, termina dia 29 de março.” (grifos meus). www.imirante.com.br, com informações do MDS - 14/03/2012.

Quer dizer que 729 mil famílias tiveram os benefícios suspensos porque não procuraram as prefeituras? MENTIRA!!! LOROTA DAS BRABAS!!!

Não todas, mas a maioria dessas famílias procurou as prefeituras, até porque o aviso, ou seja, a convocação, estava aparecendo todos os meses no extrato da conta, quando o beneficiário ia sacar o dinheiro.

Acredito que a grande maioria das prefeituras fez a sua parte atualizando os dados cadastrais dos beneficiários, mas...

A verdade é que o novo sistema do cadastro único, a chamada VERSÃO 7, tem atrapalhado a nossa vida de tal forma que o prazo final da atualização cadastral – repito – foi mudado CINCO vezes!!! E sobre isso ninguém fala nos noticiários, nenhuma vírgula, deixando o povão correr como doido, acusando os pobres funcionários das prefeituras.

TACANDO FOGO NA DINAMITE

Os “zéguas” que trabalham no Bolsa Família já são – tradicionalmente – vistos com olhares suspeitos. Na semana passada um dos “zéguas” mudou de setor e alguém disparou:

- Já vai tarde. Já roubou demais.

Caros jornalistas, repórteres, blogueiros, ou coisa parecida, por que vossas senhorias não fazem alguma reportagem mostrando os bastidores do Bolsa Família, destacando o pouco caso que a Caixa dá ao sistema do Cadastramento Único, os graves problemas envolvendo o novo Sistema (a chamada Versão 7) e as desculpas esfarrapadas do pessoal do 0800?

Infelizmente os jornalistas adoram noticias onde as palavras “fraude” e “bolsa família” aparecem no mesmo parágrafo. E qual o problema com esse tipo de noticia? Vejamos um exemplo, que foi publicado em 24 de novembro de 2011 no link: http://www.d24am.com/noticias/amazonas/pf-desmantela-esquema-de-fraude-do-bolsa-familia-no-interior-do-amazonas/42478


“PF desmantela esquema de fraude do Bolsa Família no interior do Amazonas”


“50 pessoas na cidade de Boca do Acre foram acusadas de receber o benefício do programa Bolsa Família de maneira ilegal. Todos foram indiciados pela Polícia Federal.”

Comentários (meus): Que escândalo! 50 pessoas recebendo o Bolsa Família de maneira ilegal! Qual a novidade? Quase todos os municípios do Brasil (não vou dizer TODOS porque não gosto de generalizar) têm não somente um, mas vários casos de beneficiários ilegais. Por que isso acontece? Antes de responder isso, quero apresentar o restante da notícia:

“Manaus - A Superintendência da Polícia Federal do Acre (PF-AC) investiga, no munícipio de Boca do Acre, 50 casos de fraudes em documentos utilizados para cadastro no programa Programa Bolsa Família. A PF estima que o esquema tenha retirado, ilegalmente, mais de R$ 120 mil por ano dos cofres públicos.

“Mandados se busca e apreensão cumpridos durante a operação deram conta que servidores estaduais, municipais, empresários locais, fazendeiros, comerciantes e gestores responsáveis pela concessão do benefício na cidade integravam a lista do programa. Em um dos casos, segundo a PF, o indiciado tinha renda média mensal de mais de R$ 30 mil.

“De acordo com informações da assessoria da PF, a investigações partiram de uma denúncia anônima e se desdobrou na descoberta de 50 pessoas com renda superior ao permitido no programa (R$ 140 mil*) simulando, por meio de documentos forjados, a inclusão de falsos familiares e dependentes que nem sequer residiam em suas casas. Nomes de crianças e adolescentes falecidos também estavam incluídos no cadastro de alguns beneficiários.

Parte dos indiciados já foram ouvidos e negaram a autoria do delito, alegando desconhecimento da Lei”.

*Observação: a reportagem fala de R$ 140 mil, mas acredito que houve um equívoco, pois o valor real é R$ 140,00.

Algumas coisas precisam ser ditas antes que algum apressadinho atire a primeira pedra:

A notícia diz que os envolvidos são: “servidores estaduais, municipais, empresários locais, fazendeiros, comerciantes e gestores”.

Não quero “botar a mão no fogo” pelos servidores municipais desse município investigado, mas se é verdade que existem muitos beneficiários ilegais recebendo o Bolsa Família por esse brasilzão afora, é também verdade que na grande maioria dos casos os servidores municipais (os zéguas) são apenas bodes expiatórios. E é fácil explicar como isso acontece (oito anos de experiência, alvo de ameaças e de xingamentos me dão autoridade para explicar isso):

A reportagem revela que os 50 usuários ilegais recebiam o beneficio porque forjaram documentos para incluir “falsos familiares e dependentes que nem sequer residiam em suas casas.”

O individuo chega com vários documentos e joga na mesa do pobre zégua, que não é especialista em autenticação de documentos (e nem tem tempo pra isso). Os zéguas, ingenuamente, acreditam que o individuo está falando a verdade e que os tais documentos expressam a verdade.

A reportagem também denuncia que “Nomes de crianças e adolescentes falecidos também estavam incluídos no cadastro de alguns beneficiários.”

Infelizmente isso acontece com muita freqüência e não tem nada a ver com FRAUDES PREMEDITADAS ORQUESTRADAS PELOS FUNCIONÁRIOS MUNICIPAIS PARA DESVIAR O DINHEIRO DO BOLSA FAMILIA.

Simplesmente acontece o seguinte: a criança morre e os pais “esquecem” de avisar o departamento do Bolsa Família, cujos funcionários não possuem o dom da ONISCIÊNCIA. De repente a Freqüência Escolar denuncia que a criança não está indo pra escola. Logo o beneficio é bloqueado. A família corre para o departamento dos “zéguas”, querendo saber porque o Bolsa Família está bloqueado se...

- OS “MININO” NÃO PERDEM UM DIA DE AULA.

- E essa criança, Toinha Pereira do Menino Jesus? – Pergunta Zégua.

- Ah, meu “fio”, a pobrezinha morreu no ano passado e...

- E por que a senhora não veio informar a gente para evitar o bloqueio do beneficio?

Todas as situações-problemas que apresentamos neste blog desde o inicio de sua criação, seja por meio de textos ou cartuns, são a mais pura verdade e ocorrem diariamente em quase todos os departamentos do Bolsa Família do Brasil.

Os “zéguas” (coordenadores, entrevistadores e digitadores do Bolsa Família) não tem tempo e energia suficiente para “fazerem barba, cabelo, bigode e dar banho” em todos os indivíduos cadastrados no programa.

Ou seja, a própria sociedade DEVE fiscalizar o bom andamento do programa, mas isso não é tão simples. Não adianta xingar os nossos heróis acusando-os de terem cadastrado alguém que não merece. Esse “alguém que não merece” não costuma se apresentar com um letreiro na testa denunciando que é um mau-caráter.

Pelo contrário, se esse alguém, por exemplo, é uma mulher, vai se apresentar é como uma coitadinha, uma pobrezinha que mora de aluguel, o marido foi embora de casa, deixando os cinco filhos pra ela criar sozinha. Coitado é do Zégua que não sabe que:

- Ela REALMENTE mora de aluguel, mas é porque alugou as quatro casas que possui e vive como uma empresária do ramo de aluguel;

- O marido REALMENTE foi embora, mas agora ela mora com outro, que é um grande comerciante da região;

- Ele REALMENTE deixou os cinco filhos com ela? Sim, mas os cinco “minino” são cinco marmanjos: três já estão até casados e dois vivem independentes, cuidando de um negócio particular.

Outro exemplo, usando um homem.

O “coitadinho” se apresenta dizendo que a mulher o abandonou e agora ele, desempregado, precisa cuidar das três crianças, comprar fardas e material escolar pra mandá-las pra escola. Mas a verdade é que:

- O “coitadinho” foi abandonado pela mulher, mas agora vive com uma amante, que é uma rica empresária da região.

- Tá desempregado? Na verdade, ele não é funcionário da Prefeitura, mas vive muito bem como capataz de um rico fazendeiro (muitas pessoas pensam que “empregado” é só quem trabalha para a Prefeitura ou pro Estado).

- E as três crianças? Coitadinhas, ele tem que mandar a “mesada” delas toda semana, uma mesada boa, pois as três patricinhas estudam na capital, num colégio particular.

A sonegação de informações, a cultura da desonestidade e a grande cara-de-pau do brasileiro, com seu famoso “jeitinho” são os principais elementos que geram beneficiários ilegais dentro do Bolsa Família. Acabar com essa pouca vergonha não é tão simples como supõem os falsos moralistas e os hipócritas que adoram dar uma de indignados.

É, meu filho. Ser Zégua não é uma opção. É uma falta de opção mesmo.