Apresentando o senhor ZÉGUA

Apresentando o senhor ZÉGUA

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Lendas sobre os colegas do Zégua - TONHÃO DA PEIXEIRA, UM CABRA VALENTE... E TRAUMATIZADO

Antonio Zenóbio estava há seis meses vivendo naquele distante povoado. Tentava refazer a vida depois de enfrentar alguns problemas na cidade onde residiu muitos anos. Era um homem de coragem. Seis meses morando naquele desconhecido povoado e sua fama de corajoso e audacioso já havia se espalhado em toda região. Qualquer desafio e o homem estava lá.

Chegou um arruaceiro no povoado, desafiou Deus e o diabo, espantou todo mundo... ou quase todo mundo. Antonio Zenóbio, também conhecido como Tonhão da Peixeira, rapidamente botou o cabra pra correr.

Apareceu uma grande sucuri no riacho da região, e nosso amigo Tonhão da Peixeira não pensou duas vezes. Lançou-se sobre a bicha e a matou esfolada.

O cara não tinha medo de nada. Mas ninguém conhecia seu passado. Ele não contava pra ninguém, apesar de ter feito amizade com quase todo mundo.

Muitos imaginavam que Tonhão tivesse arrumado alguma encrenca pesada com alguém na cidade grande, ou quem sabe, até com a policia, mas o homem não revelava nada a ninguém.

Ali perto havia um vale cheio de histórias e mistérios. Um velho cemitério, muito antigo mesmo, e que ninguém tinha coragem de passar perto, muito menos enterrar um parente. Muitas histórias escabrosas eram contadas. Tonhão não dava a mínima. Até o dia em que alguém fez um desafio. Daria uma boa recompensa ao cabra que tivesse coragem de, à meia noite, ir até o velho cemitério e trazer uma cruz de lá. Isso foi sopa pro nosso amigo Tonhão.

Num dia chuvoso, à meia noite, o cabra foi até o cemitério, arrancou uma cruz bem antiga e trouxe pra todo mundo vê. Depois, todos ficaram bebendo até o dia amanhecer.
Tonhão não tinha medo de nada.

Nada metia medo em Tonhão, nada fazia aquele cabra tremer.

Mas um dia um rapazinho chegou ao povoado. Parecia um estudante fazendo pesquisas. Conversou com uns aqui, outros acolá. Tonhão estava descendo a serra, era meio dia e o cabra estava com muita fome. Havia um acampamento ao pé da serra onde os homens costumavam almoçar. Lá vinha Tonhão descendo a serra, cansado, mas feliz. No mesmo instante o rapazinho recém-chegado vinha subindo a serra. Já tinha conversado com todo mundo, menos com o Tonhão.

- Tonhão, esse rapaz quer falar com você! – Gritou uma voz lá no barracão.

- Tou descendo – disse nosso herói.

De repente alguém ouviu um grito. Todos saíram do barracão. Parecia que alguém tinha sido esfolado por algum animal. E o som foi ficando distante, distante. Parecia alguém sendo perseguido por alguma fera. Rapidamente os homens apanharam suas armas.

Lá fora estava o rapazinho parado, bastante confuso, tentando entender o que estava acontecendo.

- O que houve por aqui, amigo?

- Sei lá. Quando o homem, que vocês chamam de Tonhão, olhou pra mim, ficou tão assustado que parecia ter visto um fantasma. O grito foi tão aterrorizante que rapidamente olhei para trás de mim, temendo que alguma coisa estivesse me ameaçando. Mas não havia nada. Quando tornei a olhar para o seu Tonhão, o homem já estava do outro lado da serra, gritando como louco, sem olhar para trás.

E a partir daquele dia ninguém mais ouviu falar do Tonhão da Peixeira.

O mistério durou vários meses. Até que alguém resolveu investigar a história. Logo outras pessoas se juntaram ao investigador. Descobriram o nome da cidade onde o Tonhão havia morado vários anos. Foram até o local onde ele trabalhava, conversaram com seus antigos colegas, juntaram as peças do quebra-cabeças e então tudo foi esclarecido.

A pista final foi dada pelo rapazinho que havia visitado o povoado do Tonhão. Tudo se encaixou. O rapazinho contou o seguinte:

- Naquele dia, ao descer da serra (no momento em que eu estava subindo), seu Tonhão olhou para mim. Mas não foi minha cara que o assustou. Ele olhou para mim e sorriu. Aproximou-se ainda mais. Então olhou para minha camisa e foi então que arregalou os olhos como se tivesse visto uma assombração.

- E tinha algum desenho horrível na sua camisa, tipo uma caveira, uma serpente, um dragão, um fantasma? – Perguntou um dos investigadores.

- Não, nada disso. Só havia um slogan de um programa do governo federal e uma frase:

....................EU TRABALHO NO BOLSA FAMILIA...................

terça-feira, 27 de outubro de 2009

LENDAS URBANAS SOBRE O ZÉGUA – UMA VELHA FÁBULA ADAPTADA AOS NOVOS TEMPOS

Certo dia, ao ver um jegue atravessando a rua, Zégua fez uma aposta com seu velho amigo Arnildo Rochildo.

- Ah, descobri um novo truque. Conheço alguns segredos sobre a linguagem dos animais.
- Não vai me dizer que agora fala com animais? Essa eu quero ver.
- Pois veja. Vou usar apenas palavras e aquele jegue vai esboçar várias reações diferentes. Ele vai fazer coisas surpreendentes.

Rochildo riu, incrédulo, enquanto Zégua se aproximou do animal. Chegou perto do ouvido do jegue, disse alguma coisa e de repente o bicho derramou algumas lágrimas.
Rochildo ficou impressionado.

Zégua falou pela segunda vez e o animal chorou desesperado, como quem tivesse perdido um parente próximo.

Zégua falou novamente e desta vez o animal rolou no chão de tanto rir.

- Inacreditável! – Exclamou Rochildo.

Zégua falou pela quarta vez e – MILAGRE! – o bicho o abraçou, dizendo duas palavras:
- MEU IRMÃO!
- Essa não! – Exclamou Rochildo, olhando ao redor para ver se mais alguém estava testemunhando aquilo.

Zégua falou pela quinta vez e o animal se ajoelhou, colou as patas dianteiras uma na outra, como se estivesse em posição de oração e fechou os olhos durante alguns minutos. Arnildo ficou boquiaberto.

Quando Zégua falou pela sexta vez, o bicho olhou furioso para o Arnildo. Depois investiu contra ele, soltando fumaças pelas ventas, com tanta ira que, desesperado, nosso amigo Arnildo teve que se esconder dentro de um comércio. O animal não se conteve e ficou dando coices no portão do comércio e estava prestes a derrubá-lo, quando Zégua se aproximou e cochichou alguma coisa no ouvido do bicho.

Ao ouvir o Zégua pela sétima vez, o jegue tremeu todo, olhou apavorado para o nosso amigo e em seguida deu uma carreira tão grande e desesperada que mais tarde foi encontrado no meio do mato, desmaiado de tanto correr.
Rochildo saiu, todo desconfiado e ainda tremendo.

- Zégua, que raio de truque foi esse? Desta vez você se superou. O que você disse que provocou toda aquela loucura no jegue?

A HORA DA REVELAÇÃO.

- A primeira frase: SOU FUNCIONÁRIO PÚBLICO.

- A segunda frase: SABE QUANTO EU GANHO POR MÊS? $%#¨%%¨&¨*@.

- A terceira frase: TRABALHO NO DEPARTAMENTO DO BOLSA FAMILIA.

- A quarta frase: MEU HORÁRIO DE ATENDIMENTO É O DIA TODO, EM QUALQUER HORA E LUGAR.

- A quinta frase: GERALMENTE AS PESSOAS QUE ATENDO ESTÃO ESTRESSADAS E ACHAM QUE ESTOU MENTINDO PRA ELAS. SÓ DEUS PRA ME DAR PACIÊNCIA.-

- A sexta frase: SABE QUEM CRIOU O BOLSA FAMILIA? AQUELE CARA ALI.

- A sétima frase: VOCÊ QUER TRABALHAR NO MEU LUGAR?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ZÉGUA, ADMIRO SUA PACIÊNCIA... EI, ABAIXA ESSA ARMA!

- O senhor é o Zégua? É que...
- Seu cartão tá bloqueado, cancelado, o dinheiro diminuiu, foi roubado, quebrou, a senhora perdeu... ou está por aqui só para matar a saudade da gente? – Pergunta o Zégua, sorrindo, curioso com a reação da recém-chegada, que o olha de forma esquisita, como se estivesse pensando: “Esse aí não tem o juízo normal”.
- Não é nada disso, não – a senhora senta e mostra um papelzinho – É que fui tirar o dinheiro e apareceu essa mensagem aí.

“O CADASTRO DE SUA FAMÍLIA ESTÁ DESATUALIZADO. PROCURE A PREFEITURA PARA FAZER A ATUALIZAÇÃO E EVITAR O BLOQUEIO EM NOVEMBRO”.

- A senhora fez a revisão recentemente?
- Fiz.
- É, seus dados foram atualizados e enviados no mês passado – informa o Zégua, depois de olhar na base cadastral.
- E este aviso?
- É porque o governo federal prorrogou o prazo da revisão e continua enviando o mesmo aviso para todo mundo. Se a senhora já revisou não precisa se preocupar.
- E se continuar vindo o aviso?
- Deixa vir. Talvez venha até o juízo final – responde o Zégua, já meio irritado.
- Tá bom, então não é pra eu me preocupar...
- Se seu cartão bloquear, a senhora me procura...
- Tá, mas se continuar aparecendo a mensagem...
- É como EU JÁ DISSE. O aviso não mata ninguém. Se der qualquer problema no cartão, a senhora me procura...
- Tá certo. Mas por que eles continuam mandando esse aviso?
- É porque – o sangue começa a ferver na cabeça do Zégua – é porque é muita gente pro governo dá conta. Se der problema a senhora me procura.
- Tá bom. Vou ver no próximo mês... – Antes de cruzar a porta, olha pro Zégua e torna a dizer – mas a mensagem diz que meu cadastro não foi atualizado...

“SENHOR, NÃO DEIXA EU COMETER UM HOMICIDIO AGORA!” – Ora Zégua, em pensamento.

- Tá bom, senhora. Vou torcer pro seu cartão ser bloqueado e aí vamos ter alguma coisa pra resolver.
- Você é doido?!

E a perseguição continua. Em qualquer horário ou local, pessoas e mais pessoas aproximam-se do Zégua e de sua equipe com a mesma perguntinha irritante:
- Eu queria saber o que significa esta mensagem, pois revisei meu cadastro e aqui diz que não revisei.
Zégua olha para um amigo e pergunta:
- TEM CURA PRA ISSO?

COMO DIZIA AQUELE DÉBIL MENTAL, QUE FUGIU DO HOSPÍCIO: NOSSA INTERNET É A MELHOR DO MUNDO!

- Bom dia, você é o seu Zégua, o rapaz que ajeita cartão?
- Depende de quem está procurando... – responde o Zégua, sem olhar para o recém-chegado – se é cobrador, pistoleiro, funcionário da Caixa, o senhor Zégua não está...
- ??? – O individuo fica uns segundos surpreso com a resposta do nosso herói.
- Sim, sou eu mesmo – fala o Zégua, sorrindo – o que a senhora deseja tão cedo por aqui?
- É que meu cartão...
- Tudo bem, já sei – pega o cartão dela, clica no ícone da internet e prepara-se para acessar o SIBEC.

“A PÁGINA NÃO PODE SER EXIBIDA” – Aparece a mensagem na tela.

- Essa não! De novo? – Irrita-se Zégua. Mexe em alguns programas, clica em vários lugares, tentando forçar a volta da Internet. Mas é tudo inútil.
- Sinto muito, senhora, mas a internet saiu pra merendar de novo... – diante do rosto surpreso do individuo, como se não tivesse entendido nada, Zégua esclarece – O NOSSO SISTEMA ESTÁ FORA DO AR.
- E quando volta?
- Quando nossos administradores criarem verecúndia.
- Verecun... O quê??? – O individuo continua sem entender a mensagem cabalística de Zégua, que respira fundo e torna a falar:
- Sinto muito, só posso tentar resolver seu problema quando a Internet voltar... e ela pegou o avião não sei pra onde, sem deixar recado. O que quero dizer é que estamos com um problema no nosso computador e não sei quando será resolvido.
- E como fica meu cartão?
- Só posso dizer alguma coisa quando resolver este problema aqui. É o jeito a senhora voltar depois. Ah, espere um pouco, parece que já voltou...
Três minutos depois.
- Caiu de novo!
Quinze minutos depois.
- Ah, voltou de novo!
- Quatro minutos depois...
- Tornou a cair.
- Voltou!
- Tornou a cair!
- Tá de volta!
- Ih, caiu de novo!
- Voltou!
- Foi dar banho nos filhos.
- Voltou!
- Que beleza! Foi olhar se estou lá na esquina!
- Ah, resolveu voltar!
- Ah, caiu de novo!
- Voltou!
- Caiu!
- Voltou!
- Caiu!
- Olha, eu vim aqui segunda-feira e o senhor disse pra mim voltar no outro dia.
- Eu já vim quatro vezes nesta semana. Acho que vocês estão me enrolando.
- No mês passado me disseram que o sistema caiu, hoje de novo a mesma molecagem.
- Acho que vou deixar esse negócio de cartão de mão. Todo dia venho aqui e vocês dizem que essa Internet está fora do ar. Se não quiserem resolver digam logo, não fiquem enrolando.

- Espere um momento. Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou! Caiu! Voltou!

Pois é. Nosso Departamento usa um sistema de Internet (via rádio), que, além do sinal ser extremamente baixo, ainda é dividido em mais de 10 (DEZ) computadores espalhados na Prefeitura.

Agora imagine: O Programa Bolsa Família exige uma Internet, de, no mínimo 1000 kbs ou 1MB. (De acordo com o Informe n.º 168, de 15/04/2009 do Ministério do Desenvolvimento Social - www.mds.gov.br/bolsafamilia).

Só para enfatizar: A velocidade mínima para funcionamento do Programa Bolsa Família exigida pelo Governo Federal é 1000kbs e a nossa atualmente... fico até envergonhado de revelar.

É como se uma tartaruga aleijada estivesse competindo com um trem bala!
Está vindo aí a nova versão do CadÚnico, a lendária versão 7.0, que deverá ser acessada on-line... nem quero imaginar o caos que acontecerá!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

SETE TÁTICAS PARA TENTAR FORÇAR O ZÉGUA A RESOLVER SEU PROBLEMA

Quando acontece um problema no cartão do Bolsa Família, o usuário procura o Departamento, armado até os dentes... armado com artimanhas, é claro. Se o caso é simples, o Zégua resolve na hora. Se é mais complicado ou não tem jeito (tipo cartão cancelado porque existem dois aposentados na casa, família tem renda superior, não quer mandar os filhos pra escola, etc.), o usuário tenta forçar nosso amigo Zégua utilizando as seguintes artimanhas:

Tática 1 – (apelando para o emocional)

– Meu filho, você precisa ajeitar meu cartão. Estamos passando fome, nóis num tem renda nenhuma, os meninos não tem nem roupa pra ir a escola, não sei o que vai ser daqui pra frente.

Se o caso envolve aposentadoria ou pensão, o usuário já tem a resposta pronta:
- Mas, meu fio, o dinheiro do aposento só dá pra comprar os remédios, blá, blá, blá,...

- Olha, meu fio, to sofrendo de trombose na ossada fina, caxemira no lombo esquerdo, traconites no pé da barriga, tenho bicho no pé, esculhambatite na ponta da língua, preguicite aguda nas duas canelas, blá, blá, blá, veja aqui as receitas (tira uma tonelada de receitas e joga na mesa)... esse dinheiro do aposento não dá nem pra comprar esses remédios. Se meu cartão não for desbloqueado acho que vou morrer. Eita, hoje mesmo acordei tonta.

Tática 2 – (tentando vencer o Zégua pelo cansaço) – Depois de ouvir a explicação que o problema do cartão não pode ser resolvido por causa de certos fatores exigidos pelo governo (renda inferior, crianças na escola, etc.), o usuário fica uns minutos em silêncio, olhando pro chão, com o ar de quem aceitou a explicação. Quando pensamos que ele vai sair, olha para o Zégua e insiste:

- Mas meu fio, eu conheço gente que também é aposentada, blá, blá, blá, etc.
Zégua, pacientemente explica tudo de novo. A pessoa parece se convencer. Mas continua sentada, olhando para o chão, para as paredes. Daqui a pouco torna a falar:

- Eu não sei porque vocês cancelaram meu cartão. Pra mim, aposentadoria não tem nada a ver, pois blá, blá, blá,...

Zégua, ainda mais paciente (por fora, porque por dentro a vontade é de ... melhor não publicar), torna a repetir a mesma história, usando palavras mais simples. A mesma reação de antes. O individuo insiste, teima, insiste, teima... até que o Zégua se vê obrigado a usar de criatividade para “expulsar” o sujeito da sala. Outro dia contamos os detalhes.

Quando o individuo sai, Zégua respira aliviado, preparando-se para enfrentar o próximo desafio.

Mas no dia seguinte o mesmo individuo insistente está lá de novo, e na outra semana, no meio da rua, na feira, no comércio, na igreja, ... até que, por algum milagre ele se cansa e vai procurar o que fazer.

Outra situação popular: Depois de procurar o Departamento na segunda, terça, quarta, e quinta, lá vem a senhora novamente:
- Óia eu aqui de novo. Já abusaram minha cara? Pois só vou deixar de vim quando desbloquearem meu cartão.

Tática 3 (apelando pra intimidação)

- É o seguinte: se vocês não ajeitarem meu cartão, vou agora mesmo na promotora...

- Se a senhora quiser, dou até a minha foto pra facilitar as coisas pra doutora – responde o Zégua, logo acrescentando – E aproveite e diga pra ela que eu mando lembranças.

Tática 4 (apelando para o intercessor)

De repente, num local qualquer Zégua encontra um velho conhecido. Fazia um bom tempo que não se encontravam. Conversa vai, conversa vem. Geralmente o individuo é uma pessoa bastante ocupada, mas parece que tirou aquela tarde só pra conversar (“essa alma quer reza”, diz Zégua em pensamentos).

Algum tempo depois, o individuo faz sinal de que vai embora. Dá tchau, vai saindo bem devagar... e Zégua pensando: “acho que me enganei”. Quando o “caboclo” está quase na esquina, volta sobre seus passos, como quem esqueceu ou perdeu alguma coisa. Com a cara mais limpa do mundo, diz:

- Ah, por acaso me lembrei de uma coisa agora. Você conhece o Mussenga?

“Lá vem” – Pensa Zégua, logo respondendo:

- Acho que sim, por quê?

- Ah, é que ele me pediu pra falar com você sobre o cartão dele que... blá, blá, blá.

Tática 5 (Usando o nome de uma autoridade)

- Oi, meu cartão tá bloqueado e o Prefeito mandou você resolver.

- Oi, a mulher do prefeito disse pra você fazer o possível e impossível pra resolver meu caso.

- Oi, a mãe do prefeito disse que só você pode resolver meu caso.

- Oi, o prefeito disse pra você parar tudo que está fazendo e resolver o meu caso.

- Oi, o vereador Chico das Cobras disse que você é pago pra isso.

Tática 6 (apelando para as propinas)

- Olha, eu sei que meu cartão foi cancelado porque tenho duas aposentadorias, mas se você fazer ele funcionar de novo, trago um negócio pra você.

- Olha, se você desbloquear meu cartão, trago umas jacas pra você.

- Olha, tô criando um frango lá em casa só esperando você resolver meu problema.

- Resolve meu problema que depois a gente se acerta.

- Vamos lá, faz uma forcinha aí, eu sei que você sabe como resolver meu problema. Você não vai se arrepender.

- Eu sei que você é um menino bom, sabe que essa aposentadoria que recebemos do governo não dá pra nada. Dá um jeitinho aí que depois eu trago um presente pra você.

Tática 7 (apelando para a adulação)

- Vamos lá, eu sei que você é muito inteligente, isso é sopa pra você.

- O Município tem sorte de ter um funcionário dedicado como você... é por isso que eu tenho certeza que vai resolver o meu problema.

- Pense num cabra de coração bom... que pensa nas criancinhas que passam fome, que não tem roupa pra ir pra escola, que não tem um brinquedinho... esse aí (falando com outra pessoa e apontando para o Zégua) é um menino direito. Eu tenho É CERTEZA que ele vai resolver o meu problema.

- Faz uma força aí, meu fio... conheço você desde criancinha. Conheci seu pai, gente boa. Sua mãe sempre passava lá em casa, uma mulher muito distinta. Quando me disseram que quem resolve problema de cartão é você eu disse: Graças a Deus, hoje recebo meu dinheirinho de novo.

TESTE DE MÚLTIPLA ESCOLHA – O QUE ACONTECEU COM A INTERNET DO ZÉGUA?

Todos que trabalham com os programas do governo federal sabem que a Internet é uma ferramenta mais do que essencial para o bom funcionamento dos tais programas. O Bolsa Família, por exemplo, depende mais da Internet do que o Zelaya do Lula que... bem, deixa pra lá. Recentemente a lerdíssima internet usada pelo Zégua para transmitir os dados do Bolsa Família foi dar uma volta, tomar banho, dar de mamar aos filhos, dar um tempo, curtir umas férias na Europa, etc. Sumiu sem deixar recados.

Mais de uma semana depois, Zégua toma conhecimento do que realmente (???????) aconteceu com a Net. Quem se arrisca a acertar?

a) Deu problema no servidor;
b) Queimou alguma peça importante no aparelho que transmite o sinal;
c) A Prefeitura deixou de pagar os serviços;
d) Houve uma violenta tempestade na região, um raio caiu e atingiu a torre que transmitia o sinal da net;
e) Usuários revoltados, porque seus cartões foram bloqueados, derrubaram a torre;
f) Um mágico passou pela cidade e fez a torre desaparecer;
g) Ladrões audaciosos subiram na torre e roubaram o aparelho que transmite o sinal.

Bem, ainda não chegamos no ponto da alternativa da letra “e”, mas algumas mentes criminosas já ameaçaram derrubar o prédio onde funciona o departamento do Bolsa Família... só porque seu cartão foi bloqueado. Nesse dia uma colega do Zégua respondeu:
- A senhora pode jogar a bomba aqui, contanto que seja num horário que a gente não esteja.

A alternativa correta é a letra “g”. Pois é, conforme a versão oficial (proferida por alguns funcionários da Prefeitura), uns ladrões subiram na torre e roubaram o aparelho transmissor. Era só o que faltava. Imagine agora.

Em tempo: Antes que algum espertinho faça deduções precipitadas, informamos que existem duas redes de internet em nossa cidade. A usada pela Prefeitura e seus departamentos está fora do ar, não a outra, que usa outra torre... e sem esta imagine o caos agora.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

“ATÉ QUE EU QUERIA VOLTAR PRA IGREJA... MAS MEU BOLSA FAMÍLIA TÁ BLOQUEADO.”

Você deve estar se perguntando: O que é que tem a ver uma coisa com a outra?

Recentemente um senhor, muito angustiado, procurou nosso amigo Zégua. Disse que já tinha falado com o Prefeito – é interessante que acontece muito isso por aqui. Quando o cartão apresenta algum problema muitas vezes a pessoa corre para o Prefeito antes de procurar o departamento certo. Algumas pessoas já chegam pressionando:

- O Prefeito disse que você tem que resolver meu caso.

Zégua parece ter sangue de barata, mas muitas vezes se irrita e responde:

- Diga para o Prefeito procurar o que fazer.

Bem, o senhor acima referido chegou angustiado, dizendo que não dormiu “ontem à noite”, não sabe mais o que fazer, o que será da vida, do futuro dos filhos, etc., etc. – Parece até que morreu um parente muito próximo... Não! É só o cartão do Bolsa Família que está bloqueado.

E o senhor contou seu drama em detalhes (esse pessoal gosta de entrar em detalhes). A mesma conversa de sempre. Mas num determinado momento Zégua se segurou para não sorrir. Aquela era inédita. Tinha que ir para a sua coleção de pérolas. O moço disse:

- Minha mulher está afastada da Igreja. Ela estava até pensando em se reconciliar este mês, mas agora o cartão foi bloqueado...

Antes que Zégua perguntasse: “Mas o que tem a ver?”, o moço continuou:

- Ela disse que só iria se reconciliar se tivesse um vestido novo, tinha planejado comprar quando saísse o dinheiro do cartão. Mas agora...

Bem, pra não dizer que a história não teve um final feliz, depois de ouvir do Zégua que seu caso seria resolvido, o moço disse:

- Ah, mas ela disse que vai voltar pra Igreja, mesmo que seja com uma roupinha velha.

“ENTRE O BOLSA FAMÍLIA E SEUS DEPENDENTES HÁ MAIS MISTÉRIOS DO QUE SUPÕE A NOSSA VÃ IGNORÂNCIA” (Zégua Chakespeare)*

A situação descrita a seguir não é um caso isolado, mas é o que acontece na grande maioria dos cadastramentos ou revisão cadastral do Bolsa Família.

- A senhora tem alguma renda?
- Não, meu filho, sou lavradora.
- Sim, mas quanto a senhora acha que ganha por mês, trabalhando na lavoura?
- Ah, uns... (pensando, pensando, pensando)... acho que... sim, uns R$ 50,00.
- Cinqüenta reais?
- Sim.
- E mais alguém trabalha? Seu marido, por exemplo?
- Ah, meu filho, ele também é lavrador... ganha uns ... talvez uns R$ 80,00 por mês...
- A senhora tem filhos?
- Uns cinco.
- Alguém trabalha?
- Não, todo mundo só estuda.
- Ok, ok. Bem, preciso completar outras informações aqui (e o funcionário vai até os campos 253 a 261 do Cad-Único, que tratam das despesas mensais da família) – Quanto sua família gasta, por mês, com alimentação?
- Ah, meu filho, uns R$ 400,00.
- Ok (o funcionário fica tentado a perguntar algo, mas se controla) – e quanto gasta com transporte?
- Uns R$ 50,00.
- E com medicamentos, remédios?
- Ah, uns 200,00.
- Vocês têm fogão a gás?
- Sim.
- Quanto gasta por mês?
- Um botijão, uns R$ 38,00.

Depois de concluir as perguntas (gastos com luz, água, e outras despesas), e despachar a família, o funcionário se pergunta (a mesma pergunta que se faz quase todo dia, diante de centenas de casos parecidos):

- Qual a fonte financeira secreta que esse povo possui? A renda familiar não chega a R$ 150,00, mas as despesas passam de R$ 600,00.

a) Ou quase todo mundo tá mentindo;
b) Ou eles possuem uma fonte financeira secreta, uma mina escondida, um tesouro debaixo do colchão ou coisa parecida;
c) Ou estamos falando noutra língua e eles estão entendendo outra coisa;
d) Ou são é mais espertos que todos nós juntos.

Alguém tem alguma outra teoria?

* Em tempo: A frase introdutória é uma paródia da famosa expressão do grande Shakespeare: “HÁ MAIS MISTÉRIOS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE SONHA A NOSSA VÃ FILOSOFIA”.