Apresentando o senhor ZÉGUA

Apresentando o senhor ZÉGUA

terça-feira, 20 de outubro de 2009

SETE TÁTICAS PARA TENTAR FORÇAR O ZÉGUA A RESOLVER SEU PROBLEMA

Quando acontece um problema no cartão do Bolsa Família, o usuário procura o Departamento, armado até os dentes... armado com artimanhas, é claro. Se o caso é simples, o Zégua resolve na hora. Se é mais complicado ou não tem jeito (tipo cartão cancelado porque existem dois aposentados na casa, família tem renda superior, não quer mandar os filhos pra escola, etc.), o usuário tenta forçar nosso amigo Zégua utilizando as seguintes artimanhas:

Tática 1 – (apelando para o emocional)

– Meu filho, você precisa ajeitar meu cartão. Estamos passando fome, nóis num tem renda nenhuma, os meninos não tem nem roupa pra ir a escola, não sei o que vai ser daqui pra frente.

Se o caso envolve aposentadoria ou pensão, o usuário já tem a resposta pronta:
- Mas, meu fio, o dinheiro do aposento só dá pra comprar os remédios, blá, blá, blá,...

- Olha, meu fio, to sofrendo de trombose na ossada fina, caxemira no lombo esquerdo, traconites no pé da barriga, tenho bicho no pé, esculhambatite na ponta da língua, preguicite aguda nas duas canelas, blá, blá, blá, veja aqui as receitas (tira uma tonelada de receitas e joga na mesa)... esse dinheiro do aposento não dá nem pra comprar esses remédios. Se meu cartão não for desbloqueado acho que vou morrer. Eita, hoje mesmo acordei tonta.

Tática 2 – (tentando vencer o Zégua pelo cansaço) – Depois de ouvir a explicação que o problema do cartão não pode ser resolvido por causa de certos fatores exigidos pelo governo (renda inferior, crianças na escola, etc.), o usuário fica uns minutos em silêncio, olhando pro chão, com o ar de quem aceitou a explicação. Quando pensamos que ele vai sair, olha para o Zégua e insiste:

- Mas meu fio, eu conheço gente que também é aposentada, blá, blá, blá, etc.
Zégua, pacientemente explica tudo de novo. A pessoa parece se convencer. Mas continua sentada, olhando para o chão, para as paredes. Daqui a pouco torna a falar:

- Eu não sei porque vocês cancelaram meu cartão. Pra mim, aposentadoria não tem nada a ver, pois blá, blá, blá,...

Zégua, ainda mais paciente (por fora, porque por dentro a vontade é de ... melhor não publicar), torna a repetir a mesma história, usando palavras mais simples. A mesma reação de antes. O individuo insiste, teima, insiste, teima... até que o Zégua se vê obrigado a usar de criatividade para “expulsar” o sujeito da sala. Outro dia contamos os detalhes.

Quando o individuo sai, Zégua respira aliviado, preparando-se para enfrentar o próximo desafio.

Mas no dia seguinte o mesmo individuo insistente está lá de novo, e na outra semana, no meio da rua, na feira, no comércio, na igreja, ... até que, por algum milagre ele se cansa e vai procurar o que fazer.

Outra situação popular: Depois de procurar o Departamento na segunda, terça, quarta, e quinta, lá vem a senhora novamente:
- Óia eu aqui de novo. Já abusaram minha cara? Pois só vou deixar de vim quando desbloquearem meu cartão.

Tática 3 (apelando pra intimidação)

- É o seguinte: se vocês não ajeitarem meu cartão, vou agora mesmo na promotora...

- Se a senhora quiser, dou até a minha foto pra facilitar as coisas pra doutora – responde o Zégua, logo acrescentando – E aproveite e diga pra ela que eu mando lembranças.

Tática 4 (apelando para o intercessor)

De repente, num local qualquer Zégua encontra um velho conhecido. Fazia um bom tempo que não se encontravam. Conversa vai, conversa vem. Geralmente o individuo é uma pessoa bastante ocupada, mas parece que tirou aquela tarde só pra conversar (“essa alma quer reza”, diz Zégua em pensamentos).

Algum tempo depois, o individuo faz sinal de que vai embora. Dá tchau, vai saindo bem devagar... e Zégua pensando: “acho que me enganei”. Quando o “caboclo” está quase na esquina, volta sobre seus passos, como quem esqueceu ou perdeu alguma coisa. Com a cara mais limpa do mundo, diz:

- Ah, por acaso me lembrei de uma coisa agora. Você conhece o Mussenga?

“Lá vem” – Pensa Zégua, logo respondendo:

- Acho que sim, por quê?

- Ah, é que ele me pediu pra falar com você sobre o cartão dele que... blá, blá, blá.

Tática 5 (Usando o nome de uma autoridade)

- Oi, meu cartão tá bloqueado e o Prefeito mandou você resolver.

- Oi, a mulher do prefeito disse pra você fazer o possível e impossível pra resolver meu caso.

- Oi, a mãe do prefeito disse que só você pode resolver meu caso.

- Oi, o prefeito disse pra você parar tudo que está fazendo e resolver o meu caso.

- Oi, o vereador Chico das Cobras disse que você é pago pra isso.

Tática 6 (apelando para as propinas)

- Olha, eu sei que meu cartão foi cancelado porque tenho duas aposentadorias, mas se você fazer ele funcionar de novo, trago um negócio pra você.

- Olha, se você desbloquear meu cartão, trago umas jacas pra você.

- Olha, tô criando um frango lá em casa só esperando você resolver meu problema.

- Resolve meu problema que depois a gente se acerta.

- Vamos lá, faz uma forcinha aí, eu sei que você sabe como resolver meu problema. Você não vai se arrepender.

- Eu sei que você é um menino bom, sabe que essa aposentadoria que recebemos do governo não dá pra nada. Dá um jeitinho aí que depois eu trago um presente pra você.

Tática 7 (apelando para a adulação)

- Vamos lá, eu sei que você é muito inteligente, isso é sopa pra você.

- O Município tem sorte de ter um funcionário dedicado como você... é por isso que eu tenho certeza que vai resolver o meu problema.

- Pense num cabra de coração bom... que pensa nas criancinhas que passam fome, que não tem roupa pra ir pra escola, que não tem um brinquedinho... esse aí (falando com outra pessoa e apontando para o Zégua) é um menino direito. Eu tenho É CERTEZA que ele vai resolver o meu problema.

- Faz uma força aí, meu fio... conheço você desde criancinha. Conheci seu pai, gente boa. Sua mãe sempre passava lá em casa, uma mulher muito distinta. Quando me disseram que quem resolve problema de cartão é você eu disse: Graças a Deus, hoje recebo meu dinheirinho de novo.

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