Apresentando o senhor ZÉGUA

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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Lendas sobre os colegas do Zégua - TONHÃO DA PEIXEIRA, UM CABRA VALENTE... E TRAUMATIZADO

Antonio Zenóbio estava há seis meses vivendo naquele distante povoado. Tentava refazer a vida depois de enfrentar alguns problemas na cidade onde residiu muitos anos. Era um homem de coragem. Seis meses morando naquele desconhecido povoado e sua fama de corajoso e audacioso já havia se espalhado em toda região. Qualquer desafio e o homem estava lá.

Chegou um arruaceiro no povoado, desafiou Deus e o diabo, espantou todo mundo... ou quase todo mundo. Antonio Zenóbio, também conhecido como Tonhão da Peixeira, rapidamente botou o cabra pra correr.

Apareceu uma grande sucuri no riacho da região, e nosso amigo Tonhão da Peixeira não pensou duas vezes. Lançou-se sobre a bicha e a matou esfolada.

O cara não tinha medo de nada. Mas ninguém conhecia seu passado. Ele não contava pra ninguém, apesar de ter feito amizade com quase todo mundo.

Muitos imaginavam que Tonhão tivesse arrumado alguma encrenca pesada com alguém na cidade grande, ou quem sabe, até com a policia, mas o homem não revelava nada a ninguém.

Ali perto havia um vale cheio de histórias e mistérios. Um velho cemitério, muito antigo mesmo, e que ninguém tinha coragem de passar perto, muito menos enterrar um parente. Muitas histórias escabrosas eram contadas. Tonhão não dava a mínima. Até o dia em que alguém fez um desafio. Daria uma boa recompensa ao cabra que tivesse coragem de, à meia noite, ir até o velho cemitério e trazer uma cruz de lá. Isso foi sopa pro nosso amigo Tonhão.

Num dia chuvoso, à meia noite, o cabra foi até o cemitério, arrancou uma cruz bem antiga e trouxe pra todo mundo vê. Depois, todos ficaram bebendo até o dia amanhecer.
Tonhão não tinha medo de nada.

Nada metia medo em Tonhão, nada fazia aquele cabra tremer.

Mas um dia um rapazinho chegou ao povoado. Parecia um estudante fazendo pesquisas. Conversou com uns aqui, outros acolá. Tonhão estava descendo a serra, era meio dia e o cabra estava com muita fome. Havia um acampamento ao pé da serra onde os homens costumavam almoçar. Lá vinha Tonhão descendo a serra, cansado, mas feliz. No mesmo instante o rapazinho recém-chegado vinha subindo a serra. Já tinha conversado com todo mundo, menos com o Tonhão.

- Tonhão, esse rapaz quer falar com você! – Gritou uma voz lá no barracão.

- Tou descendo – disse nosso herói.

De repente alguém ouviu um grito. Todos saíram do barracão. Parecia que alguém tinha sido esfolado por algum animal. E o som foi ficando distante, distante. Parecia alguém sendo perseguido por alguma fera. Rapidamente os homens apanharam suas armas.

Lá fora estava o rapazinho parado, bastante confuso, tentando entender o que estava acontecendo.

- O que houve por aqui, amigo?

- Sei lá. Quando o homem, que vocês chamam de Tonhão, olhou pra mim, ficou tão assustado que parecia ter visto um fantasma. O grito foi tão aterrorizante que rapidamente olhei para trás de mim, temendo que alguma coisa estivesse me ameaçando. Mas não havia nada. Quando tornei a olhar para o seu Tonhão, o homem já estava do outro lado da serra, gritando como louco, sem olhar para trás.

E a partir daquele dia ninguém mais ouviu falar do Tonhão da Peixeira.

O mistério durou vários meses. Até que alguém resolveu investigar a história. Logo outras pessoas se juntaram ao investigador. Descobriram o nome da cidade onde o Tonhão havia morado vários anos. Foram até o local onde ele trabalhava, conversaram com seus antigos colegas, juntaram as peças do quebra-cabeças e então tudo foi esclarecido.

A pista final foi dada pelo rapazinho que havia visitado o povoado do Tonhão. Tudo se encaixou. O rapazinho contou o seguinte:

- Naquele dia, ao descer da serra (no momento em que eu estava subindo), seu Tonhão olhou para mim. Mas não foi minha cara que o assustou. Ele olhou para mim e sorriu. Aproximou-se ainda mais. Então olhou para minha camisa e foi então que arregalou os olhos como se tivesse visto uma assombração.

- E tinha algum desenho horrível na sua camisa, tipo uma caveira, uma serpente, um dragão, um fantasma? – Perguntou um dos investigadores.

- Não, nada disso. Só havia um slogan de um programa do governo federal e uma frase:

....................EU TRABALHO NO BOLSA FAMILIA...................

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