FELIZ RETORNO, SEU ZÉGUA – PARTE 1
Semana passada nosso amigo Zégua viajou até a capital do seu Estado (São
Luis) para participar de (mais) uma capacitação. Muitos funcionários públicos
adoram essas tais capacitações, pois aproveitam para relaxar, curtir a “night”,
etc., etc. Muitos tem o péssimo costume de aparecer bem cedo nas capacitações,
assinar o nome e desaparecer durante boa parte do dia.
Uns passam a semana sofrendo, com trabalhos, oficinas, palestras (algumas
muito chatas), mas outros aproveitam para farrear (principalmente quando são
funcionários mais próximos do poder, secretários, assessores, etc.). O primeiro
que disser que estou mentindo ou é um desses “malas” ou é um grande ingênuo.
Bem, e nosso herói viajou, mas deixando bem claro para todos que ia
contra a vontade (até porque o tema não lhe interessava). Nós estamos
desesperadamente precisando é de uma reunião cara a cara com os (in)
responsáveis pela Nova Versão do Cad-Único, a famigerada Versão 7 (deveria se
chamar era Versão 6.6.6, ou Versão da Besta Fera).
Nós estamos travando uma guerra inglória contra o tempo, tentando
resolver os casos cada vez mais complicados do Bolsa Família, num sistema que
traz mais estresse que alegria. Mas nosso herói passou quase a semana inteira
sentado, ouvindo debates, palestras e oficinas sobre os trabalhos dos
Conselheiros Municipais, como deviam proceder, como as prefeituras deviam
fazer, etc. Não que isso não seja importante, porém, na capital, para os
palestrantes e organizadores desses tipos de eventos, tudo parece um conto de
fadas, às mil maravilhas, é só fazer assim que vai dar certo, etc.
O problema é que quando retornamos aos nossos municípios,... parece um
daqueles filmes de Hollywood, RETORNO AO PESADELO. O que o Governo Federal tem
que fazer é obrigar os prefeitos a passarem uma semana trancados, ouvindo como
as coisas tem que ser feitas e serem advertidos das conseqüências de não se
cumprir certas leis. Mas é preciso primeiro contratar um bom efetivo de
policiais incorruptíveis para vigiarem nossos “amiguinhos municipais” e para
não os deixarem “matar as aulas”.
Se tais atitudes não forem tomadas, essas reuniões com prefeitos são
apenas mais desculpas e oportunidades para que alguém passe as noites (e dias)
nos cabarés da vida com o patrocínio dos cidadãos de bem.
Mas voltando ao nosso herói. A capacitação foi boa, mas no que diz
respeito ao Bolsa Família o foco das palestras e debates deteve-se apenas nos
conceitos fundamentais do programa, como os conselheiros da Instância de
Controle Social deveriam agir, e tal.
Quando nosso herói retornou, ai, ai.
A segunda-feira foi um dia daqueles. Ainda bem cedo (nosso herói estava
tomando banho) quando ouviu o buzinar de uma moto (Não vou nem dizer aqui o que
acho de gente que chega na porta da casa dos outros e em vez de descer e bater
na porta, chamando por um nome, fica buzinando de forma irritante).
Agora imagine um cabra desses fazendo isso ainda de manhã, bem cedo.
Quando nosso herói saiu do banho e foi ver quem era o “sem noção”, ouviu:
- Ei, eu sou o rapaz daquele dia, do cartão. Que horas você vai pro
trabalho?
Zégua ainda pensou em dizer uma besteira, mas se conteve e apenas
informou que dentro de algum tempo estaria lá. E pediu, educadamente, que o
individuo fosse esperá-lo lá.
Nosso herói saiu para o trabalho já imaginando que o dia seria bem
difícil (uma semana longe dos seus “fãs”, imagine).
E lá estava. Uma multidão, aguardando, ansiosa pela resolução dos seus
problemas. Alguém até poderia perguntar agora: E quando foi pra capacitação,
você não deixou ninguém tomando de conta do serviço? Claro que deixei. Minha
equipe é muito boa (três mulheres espertas), mas o problema é uma velha mania
(ou péssimo hábito) de muitos brasileiros: ACHAR QUE SÓ CERTAS PESSOAS PODEM
RESOLVER SUAS DIFICULDADES.
Alguns já chegaram para nosso herói e disseram, na cara:
- Eu só confio em você.
- Aquelas “bichas” não sabem resolver nada.
- Aquelas antipáticas disseram que eu não tenho mais direitos. Mas eu
sei que você dá um jeito.
“EU SEI QUE VOCÊ JÁ UM JEITO”. Zégua fica muito irritado e seu sangue
sobe sempre quando ouve essas palavras, pois o individuo trata nosso herói como
se este fosse mais um dos corruptos que infestam o nosso país, sempre dando um
jeitinho para burlar a lei.
A história vocês já sabem muito bem. O beneficio do individuo foi
bloqueado, ele não tem mais filhos na escola (ou dependentes), a renda da
família é alta, etc. Enfim, o beneficio foi bloqueado legalmente, pois a pessoa
não se enquadra mais no sistema. Mas ele não se conforma. Luta bravamente,
xinga, ameaça, faz de tudo para conseguir o beneficio de volta. Corre até o
nosso herói e acha que o cartão só ta bloqueado porque “aquelas bichas
antipáticas” não quiseram desbloquear.
Quando o nosso herói explica que a pessoa vai ficar mesmo sem o
beneficio e que as meninas estão certas, o individuo “explode”:
- Ah, vocês só resolvem as coisas pelas caras. Eu conheço gente que é
aposentada, blá! Blá! Blá!...
Nesta semana de “feliz retorno à dura realidade” nosso herói teve que
ouvir uma irritada senhora dizer que “IA PROCURAR OUTROS MEIOS” para conseguir
o seu beneficio.
- Então a senhora vai usar de meios ilegais?
- Não. Eu vou procurar outros meios. Vou procurar um advogado.
- Senhora, advogado nenhum pode mudar isso.
- Pois eu vou falar com o prefeito.
- Pode falar, mas ele também não pode mexer com o Bolsa Família. E se
ele me obrigar a fazer alguma coisa, eu deixo o Bolsa Família. E sem pensar
duas vezes.
Como desgraça pouca é bobagem, além da pressão da “multidão enfurecida”,
o sistema está cada vez mais lento (e isso quando não fica o dia inteiro “de
férias”). De tanto dizer que o sistema caiu, está fora do ar ou está lento
demais, as pessoas (pelo olhar que nos transmitem) parecem ter a plena certeza
de que somos os maiores mentirosos da terra.
Mas, para os “bonitões” de Brasília ta tudo lindo que é uma beleza.
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