Apresentando o senhor ZÉGUA

Apresentando o senhor ZÉGUA

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

UMA CARTINHA PARA O ZÉGUA...

Nesta semana uma senhora irrompeu no Departamento do nosso herói e foi logo perguntando se o cartão dela já estava desbloqueado. Ao ouvir um NÃO, jogou o cartão sobre a mesa, dizendo que não o queria mais, porque não estava servindo. E foi embora.

Zégua ficou preocupado.
“E agora, se essa doida sair espalhando por aí que eu tomei o cartão dela?” A sorte é que – naquele momento - havia, pelo menos três testemunhas no local do crim, quer dizer, no Departamento do Bolsa Família.

E agora, o que fazer com o cartão da dita cuja? Enquanto Zégua refletia no abacaxi, uma de suas colegas percebeu que havia algo junto ao cartão. Um pedaço de papel, com algo escrito à mão. Todo mundo ficou admirado. Era uma pequena carta dirigida ao nosso amigo. O texto abaixo foi reproduzido na íntegra, com exceção do nome do nosso herói (no original está o apelido dele), e sem revelar o nome da individua. Ah, até que a carta foi bem escrita. Alguns pontinhos foram acrescentados para que o texto ficasse mais compreensível – nada que afete o sentido original.

“Bom dia. Zégua estou te devolvendo o teu cartão ele não me serve, já está com 3 meses que não tiro, Zégua eu preciso deste dinheiro, é o único dinheiro que entra na minha casa, só quero que você saiba eu só quero este cartão de volta quando você resolver. Hoje eu fui tirá pensando em pagar as contas e continua broquiado eu só não peço esmola porque tenho vergonha. Zégua eu sou uma pessoa doente eu dependo de remédio. Tanta gente que tem um salário e tira. Desculpe-me.”

Algumas considerações:

- “... estou te devolvendo o teu cartão” (ênfase acrescentada).

Pois é. A compreensão popular é exatamente esta: Qualquer coisa que aconteça com seu beneficio o primeiro pensamento deles não é no governo federal, ou no pessoal da Caixa (apesar do slogan aparecer claramente no extrato da conta). Não, o pensamento geral é que OS CULPADOS SÃO AQUELES QUE TRABALHAM NO CADASTRAMENTO ÚNICO, ou seja, os “Zé éguas” do Brasil.

- “... é o único dinheiro que entra na minha casa” (ênfase acrescentada).

Esta declaração é muito comum. Uma família grande, os filhos crescidos, na escola, vestidos, vivos. E a mãe chega desesperada e diz:

- Meu fio se meu beneficio não for desbroqueado, nois vamo passá fome. É a única renda que temos.

- E antes desse beneficio existir, como vocês viviam? Roubando?

O governo federal precisa fazer algo urgente, pois se as coisas continuarem desse jeito, as famílias irão depender do Bolsa Família como um viciado depende de uma droga. Na verdade, já estão dependendo.

- “... só quero que você saiba eu só quero este cartão de volta quando você resolver.” (ênfase acrescentada).

É isso aí, Zégua. Só você pode resolver os problemas do Bolsa Família. Não adianta tentar argumentar que o problema vem lá de cima (isto é, de Brasília), que existem certos fatores envolvendo o sistema, as regras do programas, etc. É melhor ficar calado. NINGUÉM ACREDITA EM VOCÊ.

- “... Hoje eu fui tirá pensando em pagar as contas e continua broquiado.” (ênfase acrescentada).

O pobre (que possui o Bolsa Familia) geralmente já vive estressado. Chega o dia de receber o controvertido beneficio, enfrenta uma fila desumana, e quando chega a tão aguardada hora, escuta a trágica frase:

- Seu cartão continua bloqueado.

E, como se não bastasse, escuta a segunda frase, a mais infame:

- O problema é na Prefeitura. Procure o Zégua.

E a pressão continua.

- “... eu sou uma pessoa doente eu dependo de remédio.” (ênfase acrescentada).

Imagine alguém viver do Bolsa Família para comprar remédios, comida, material escolar para os filhos, viver uma vida normal.

a) Ou quase todo mundo está mentido descaradamente;

b) Ou o cartão do Bolsa Família tem algum poder mágico, um poder misterioso de transformar míseros reais em dinheiro de valor;

c) Ou o pobre conhece alguma artimanha extraordinária, algum segredo oculto, alguma mandinga poderosa, para driblar os desafios da vida diária.

Atualizando certo provérbio popular:

- O Bolsa Família pode não ser coisa do diabo... mas se você quer ver o diabo, fique frente a frente com alguém cujo cartão foi bloqueado.

3 comentários:

  1. zégua compreendo sua situação, ja passei pelo setor bolsa familia... sei muito bem como é encarar alguem injuriado por que seu cartao foi bloqueado... mas tenhamos fé, que tudo isso um dia vai terminar e voce cai trabalhar numa repartição publica de muita paz, longe dos problemas do bolsa familia, se Deus quiser....... rsrsrsr

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  2. Gente! impossível!!!!! eu acho que esse pessoal saca mais do que a gente vê no Sibec!!! Fazendo as contas dde uma maneira bem otimistima (ou melhor, pessimista..) se a pessoa for azarada o suficiente pra ter 3 filhos no BVJ e aindpor cima ficar abaixo da linha dos 70 percapta, o máximo que recebe é 167,00, certo?
    Agora pergunto eu: Como alguém que recebe de 22,00 a 167,00 consegue fazer despesa em casa, comprar remédios, material escolar, e ainda fazer comprinhas extras (Pq tive uma beneficiária que precisava desbloquear o cartão pra pagar a prestação do tanquinho!!!!)...
    Eu tb quero um cartão do PBF ele deve ser multilicador de $$$...

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  3. Nossaaaaa...verdade pessoal...ouço isso todos os dias...sem falar q 99% dizem ser "lavradores" né...

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